Baú Noturno

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Peso próprio

Vendo e sentindo como o tempo passa, tenho sede.
Quantos serão os anos? Será que é escuro? Ou claro demais.
Alguém se irá de repente. A trajetória já era fissurada.
O quarto guarda mais que roupas, livros e moedas. Guarda o que não se libertou. Ainda não.
Despertará com força?

Carregando nos ombros o próprio peso, o homem se abate e baixa a vista, a cabeça, a guarda.
Está desarmado para o dia que arrebenta a noite escura. Não há sono quando não se sonha.
Sonhar é necessário. Talvez, e muito provavelmente, assim como acontece com o instinto, o conforto de algum possível lugar pós-vida seja só para existir até que seja extinto, sem posteridade.
Ou não.
Alguns homens agarram-se à fé e deixam-se conformar pela vida que levam, julgando-a ser apenas uma passagem para um novo mundo onde tudo é como sonham.
Esses homens preenchem um vazio com algo muito maior: o peso.
Nada é tão pesado que não haja como mínimo oposto a leveza. Sempre há o outro lado.
Obviamente, da situação.
Trazem consigo o infortúnio menor: a dúvida.
Quanto mais se têm, mais se terá. Quanto menos, morte.
Ao menos é mais cômodo não haver dúvidas. Certezas são apenas dúvidas meramente corajosas e consequentemente mais frágeis à repulsa, à contradição.
Por muito menos se morre e por muito mais se mata.
Os homens pesados carregam nos ombros o peso maior do mundo: os seus próprios.




16/07/2013

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