Um homem de negócios capitais anda na rua pensando nos seus negócios capitais. Ele não olha adiante.
Ele olha o chão.
Evita levantar a vista para que não encontre ninguém que o conheça ou algo que lhe possa distrair a atenção de seus negócios capitais.
Ele tem prazer ao olhar o chão.
Fica contente e curioso por ver apenas corpos, pés e pernas que passam para lá e para cá todo tempo.
Não precisa olhar adiante.
Já conhece o caminho que faz de casa para o trabalho e vice-versa. Se guia pelas lembranças de buracos, das pedras mal encaixadas nas ruas, pela bota do guarda parado no mesmo sinal.
Por um momento pensa na hora de dormir quando imagina como seriam os rostos das pessoas.
Está tão envolto com seus cálculos de dívidas e pagamentos que se assusta quando vê um rosto.
Uma menina de cabelos louros está olhando para ele e segura uma mão masculina.
Ela lhe diz: "Cuidado, moço."
O homem de negócios capitais acha aquilo um insulto a seus negócios capitais, resmunga e volta a andar.
É atropelado!
Seu terno preto está rasgado, sua calça teve a perna esquerda arrancada, sua pasta impermeável abriu-se e de lá voaram todos os orçamentos já calculados e revistos.
Um sapato preto sumiu e tudo está rubro na vista do homem de negócios capitais.
Em seu último olhar ele vê o pai da menina, vestido de terno preto, calça completa e com um par de sapatos pretos, e com ela nos braços, chorando. Sua pasta continua fechada e ao seu lado.
O homem de negócios capitais suspira, fecha os olhos e morre de tristeza.
"Olho o chão. Sempre quando penso na rua, olho o chão. Até nos momentos em que divago, olho."
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